quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

ROMPENDO
NO RASTRO
DO SOM
KAMPISTA

Alguém me empreste os seus ouvidos, porque a impressão que tenho quando circulo pela Kampos dus Goytacazes é que existem sons entranhados nas paredes das igrejas centenárias e nos modernos edifícios que tentam conter o vento nordeste das tardes mornas e normais; não estranho a fita de aço em que se transforma a BR-101 sob o sol que vibra enquanto deslizamos adentrando a Planície em direção à nossa Vila; talvez os cantos de trabalho escravo nos canaviais que hoje consoam com a música recorrente dos que lotam os ônibus, lotadas e vans: comerciários, estudantes, desempregados, as grandes massas populares.
Deixe um tempinho comigo os seus tímpanos,minha amiga, até topar de vez com a tradução sonora dessa nossa condição.

Os campistas temos um enigma de amor e ódio ou desprezo quando se fala da produção de bens culturais na terra da sacarose e dos hidrocarbonetos. Cidade de médio porte, vivemos “longe demais das capitais”, lembrando os Engenheiros dos pampas. As alusões que passamos a ter são oblíquas, no sentido de que se fica devendo uma representação,uma reprodução da nossa identidade. Campos das big-bands que animavam os clubes nos anos 50, dos tambores do jongo soando em torno das vilas de trabalhadores da indústria açucareira, das guitarras iê-iê-iê aditivando os hormônios da juventude sessentista, da voz-violão onipresentes nos barezinhos às bandas de rock, das mais radicais ao bem-comportado pop. Vou assim mencionando uma variedade de gêneros, destacando que não é pelo apego à preservação do que já fomos, mas o que somos agora.

Se o tempo nunca dá um tempo, podemos estar fabricando o folclore do futuro em tempos de mundialização, gerando sem saber (ou não) a música que espelhará enfim o nosso ethos. Quem sabe a resposta esteja nas moléculas de ar que voam na curva da Lapa, à tardinha.


EM FEVEREIRO TEVE...

Brincadeira tem hora e quem sabia brincar, que brincasse. Dizem por aí com uma certa ponta de cinismo, que o Brasil real começa em março. Nem tanto ao mar... Entretanto um sentimento assim menos folião, me remete à parábola do poeta e o esfomeado, de Gil & Paralamas:

Oh, mundo tão desigual/ Tudo é tão desigual / De um lado esse carnaval / De outro a fome total.

Continuem a se cuidar.