terça-feira, 21 de abril de 2009


VIBRAÇÃO POSITIVA

Reza a lenda que numa ilha do Caribe, América do Centro, exatamente num país chamado Jamaica havia um ritmo agitado, o ska e que balançava as pessoas. Num certo verão, lá no final dos anos sessenta, uma forte onda de calor desacelerou o ritmo pela metade da batida, surgindo assim o que conhecemos por reggae. Fantasias ou brincadeiras à parte, daquela ex-colônia britânica cuja riqueza (muito mal distribuída, para variar), edificada pelo cultivo da cana-de-açúcar plantada por africanos escravizados. Do canto desses trabalhadores forçados, na evolução do mento, ritmo muito popular até a metade do século passado e adicionado aos rythym & blues captados das rádios do Panamá e da Flórida, veio a formatação do reggae, aliada a um africanismo crescente embasado na doutrina rasta, que cultuava a pessoa do Imperador da Etiópia Hailé Sellassie I, ou Ras Tafari (ras é um título de nobreza.), considerado na teocracia etíope o representante de Jah (ou o Deus das religiões abraâmicas).

O grande símbolo desse movimento foi Robert (Bob) Nesta Marley (1945-1981). Filho de um militar branco do exército inglês e de uma negra jamaicana, Marley cresceu no favelão de Trenchtown, e de lá para o mundo, como integrante dos Wailers,ao lado de Peter Tosh (também falecido) e Bunny Wailer. Marley assumia uma posição de difusor do pensamento rastafari como exemplo de resistência e fé religiosa ao mesmo tempo em que estimulava a libertação do jugo da Babilônia colonialista,o grande motor de uma vida materialista cujo único sentido é a dominação pelas coisas ao invés do oposto. E tudo esse discurso flutuando numa poderosa e hipnótica música. O beat do reggae impulsionado sobretudo pelo contrabaixo, bumbo da bateria e o contratempo da guitarra, reproduz os batimentos cardíacos de um a pessoa relaxada (em torno de 60 batidas por minuto). O internacionalismo reggae motivou a juventude do terceiro mundo, que se identificou com o discurso libertário de BM, e aportou avassaladoramente no Reino Unido, onde existe um numeroso número de imigrantes caribenhos e seus descendentes. É conhecida por todos a coligação punk/reggae e seus frutos (The Clash,Police, entre muitos), enlaçados pelos conflitos de classe e autodefesa contra a truculência dos direitistas de plantão, leia-se skinheads ou a mão pesada do Estado.

Passados todos esses anos,a música reggae fragmentou-se e com a porção de “raiz” (roots) ficou o encargo de nutrir a chama e o som de um sonoro “não” ainda que pacífico e tolerante. Aqui no Brasil e em outros países periféricos,o reggae foi naturalmente absorvido sem traumas pela música brasileira, mesmo que alguns seriosos acadêmicos a considerassem “simples demais” no minimalismo dos seus três acordes. Paciência. Alguém sempre apostará na música pela música...

Como arte aplicada,a grande mensagem do reggae foi inocular nos corações e mentes a possibilidade de uma vida mais simples e solidária,valorizando a paz, o amor e a justiça.

"Vocês riem de mim por eu ser diferente, e eu rio de vocês por serem todos iguais”
Bob Marley