quarta-feira, 23 de dezembro de 2009


ROCK NA TERRA DO AÇUCAR OU
É DOCE, MAS É DURO parte II


A música rock chegou a Campos,nos anos 50,pelas ondas do rádio e pela persuasão hollywoodiana,que tentava reproduzir a dicotomia das faixas etárias na sociedade estadunidense no pós-guerra, durante a Guerra Fria e suas bombas ameaçadoras. Em grandes metrópoles ou nas pacatas cidades do interior do Brasil,muitos ouvidos não foram refratários ao ritmo. Enquanto bem-comportadas orquestras e pequenos conjuntos faziam o fundo musical de uma era de incertezas e promessas (No Brasil, vivíamos a era JK, a dos cinquenta anos em cinco),um novo som fundamentado numa atitude básica de valorização da juventude e enfrentamento da rigidez patriarcal,ecoava.

Enquanto se discutia qual o valor daquela música,se era apenas um
modismo ou não, e os danos que poderia causar à cultura nacional e
se teria lugar numa calma e tradicional cidade açucareira no Norte do RJ,
distante demais das capitais,atravessávamos os sombrios anos de chumbo,
que iniciariam em 64 com um golpe militar.

Nos anos 70,o rock internacional e o melhor que se fazia na terra brasilis
já estava longe da ingenuidade e da alienação política,e enquanto as bandas
gringas podiam se expressar sobre questões como a guerra do Vietnam e o
uso da marijuana,aqui se perguntava se vivíamos numa ditadura ou não.
Desbravadores como Raul Seixas e Rita Lee (então rainha do rock) deram o
toque e a juventude encontrou um abrigo rock’n’roll,pois precisava se autoproteger
daquele mundo estranho.Valores como não-violência,um certo desapego material
e psicodelia eram as tônicas dos roqueiros de então. E claro,os teimosos músicos
lutavam com um a escassez de equipamentos e instrumentos (o governo proibia
qualquer importação,alegando que fabricávamos similares) e faziam o rock rolar,
e assim surgiram grupos como Lúcia Lúcifer,Banda de Vidro,Carga Nuclear e Ego,
entre outros. Os shows eram ultra-alternativos (e essa estratégia continua de certa
forma no século XXI) e o som pautado pelo nascente hard- rock e um pouco de blues
e progressivo.

A virada dos oitenta e o fim do regime antidemocrático estimularam o que seria a
popularização do rock no Brasil,e inúmeras bandas surgiram para celebrar ou
protestar (“queremos mais!”),insuflados pelo furacão punk. Banda de Neve e os
Andões,Calibre Cinco,Avyadores do Brazyl,Vida de Cão foram as figuras fáceis/difíceis da vez. Pena que a longevidade dos grupos só vinga pela insistência,e foram poucos os
sobreviventes. O rock viveu sua fase de refluxo na era Collor ou o tempo do breganejo,
e na virada do século já não era tratado como novidade,pois parece que ele sempre jogava na retranca.

O denominador comum desses tempos,o mercado,fez as casas noturnas acolherem
várias bandas roqueiras e outras já se agrupam com essa intenção,além dos eventos
exclusivamente dedicados,deixando no ar uma dúvida: Onde começa a arte e onde ter-
mina a representação,ou vice-versa.