quarta-feira, 11 de março de 2009

O ROCK DAS MULHERES

O grande atrativo do R&R foi que ele escancarou a porta para a efervescência hormonal da juventude, pois unia a reprimida (e quente) músico afro (rythym & blues) com o caipira eletrificado. Os nomes de proa do movimento (Elvis, Berry, Perkins) apresentaram um modelo de masculinidade para os garotos, e as canções reforçavam isso, com certo machismo blasé. Já era subentendido que bandas e cantores seriam os homens, pois a pulsão do rock exigia certa agressividade que se achava inerente aos machos (algo como a polêmica a respeito do futebol feminino).

As garotas? Bem, as garotas são ainda as coadjuvantes/musas da cena. Porém o mundo gira e o moinho precisa de muitos para produzir e consumir. A inserção das mulheres no mercado de trabalho as deslocou do eixo que assinalava para um amanhã de dona-de-casa, mãe esposa. Além de tudo isso, aspirante a heroína da classe trabalhadora, com dupla jornada de trabalho.
Bem, nada mais emblemático para traduzir essa vida compartilhada com o sexo oposto nas linhas de produção, escritórios, hospitais, lojas, e universidades, do que usar aquelas armas que as pioneiras da emancipação feminina nos anos 20 não tinham. Uma guitarra elétrica mais um amplificador ou a força de uma voz. ao microfone. Não há de como não citar Janis Joplin,do Texas para o blues-rock Cósmico e a baixista/vocalista Suzi Quatro. Já na fase global do Rock e sua versão européia (Reino Unido), ao lado de bandas pós-Beatles/Stones e advento do tsunami punk setentista, evidenciou-se a presença feminina com as bandas mistas (Pretenders,Siouxsie & The Banshees),ou só constituídas por mulheres (Runaways). No cenário punk, mais libertário, o preconceito machista era ausente ou mais atenuado. Isso evidencia que mesmo pregando aos quatro ventos um procedimento anti-sistema, o Rock tem suas contradições...

Pra cá do mundo tem um país, a terra brasilis, que não ficou imune ao vírus. Na primeira hora,nos anos dourados das lambretas e das normalistas,veio Cely Campelo e seu estúpido Cupido;na hora cinza-chumbo do golpe contra um projeto de civilização democrática,tivemos Rita Lee, com seu humor corrosivo.Roqueira tirando proveito do choque rosa-choque,contribuindo com sua verve para enriquecer o vocabulário da seu antigo desafeto,a música popular brasileira. Ela ainda apronta. Foi-se o vendaval blueseiro elétrico/eclético de Cássia Eller; temos o hardcore de Pitty, comprovando que a Bahia ainda tem.

Na verdade sabemos que o Rock vem e volta para seus abrigos antiaéreos, o velho underground. Bandas ou cantoras de rock no Brasil podem não ser muito populares por aqui, pois fogem do padrão que a sociedade espera delas. É como aquela questão cultural de que preto tem que tocar samba etc. E pra cá do Brasil, em nossa terrinha, nosso rock hoje em dia é feito por quase cem por cento por cuecas.

Pra completar, só digo que a diversidade é uma benção.