terça-feira, 4 de agosto de 2009


ABBEY ROAD


Esquina, marco histórico, crossroad: há quarenta anos atrás era lançado ao mundo o derradeiro álbum da maior banda de Rock de todos os tempos: intitulado Abbey Road, o nome da rua em Londres onde se encontram os estúdios da EMI e onde foi gravado o disco,os Beatles fizeram sua despedida com toques de genialidade. Afastados dos palcos desde 1966, quando decidiram por fim às turnês,cansados da horda de adolescentes barulhentas que queriam tudo,menos a música ,os Beatles investiram nas possibilidades criativas dos estúdios de gravação. E assim passaram a lançar singles e álbuns com os mais diversas orientações,apontando tendências,inovando e ajudando a formatar o que hoje conhecemos por rock’n’roll.

Leitor ou leitora,empreste seus ouvidos para uma mídia (se possível, vinil!) e mergulhe naquele final de década.Durante seis meses os caras engendraram canções que podem ser consideradas divisores de águas dentro da própria banda,dessa vez não com a disposição anárquica do White Album,mas com meticuloso senso de “mudança de cenário”. É sabido que na dinâmica interna dos Beatles,Lennon e McCartney detinham a prioridade nas composições,em parceria ou não,enquanto que Harrison ficava com o espaço remanescente de um disco,mas isso não impediu que Abbey Road fosse produzido na maior parte como um disco conceitual,em que as canções se entrelaçavam,dando prosseguimento à viagem sonora. Come Together,que abre o disco, bluesy com a slide de Lennon, deságua na belíssima Something do subestimado George, e na versão original (vinil) o lado A finda com os vertiginosos acordes de She’s so heavy desaparecendo num corte súbito. Ali também foi inaugurado o uso de sintetizadores Moog, bem colocados (Here comes the sun,também de George Harrison), bem longe do bombardeio de saturação do progressive-rock, ,que viria dali a alguns anos e junto a guitarras cujos timbres até hoje é difícil de emular,ouça-se o duelo final das três guitarras (Lennon,Mc Cartney e Harrison) na emblemática The End.

Eric Clapton disse,na sua autobiografia,que hoje o que a indústria do disco despeja nas prateleiras é noventa por cento de lixo. Não discordo da porcentagem nem da constatação da perversa ideologia comercial totalmente descompromisada com a Arte. Alguns dizem que a música dos Beatles deu um certo toque de humanidade às pessoas, e que em certo tempo da história musical recente tivemos alguns nichos de criatividade,como o Rock que se concretizou naquela época,e hoje segue seu caminho de pedras e balanço.

“And in the end the love you take is equal to the love you make.”
The End,Lennon-McCartney